sossego

Há uma parte de mim que está a definhar. Há um silêncio mordaz que vai surgindo das sombras, e que, calmamente, vai abafando todos os gritos de ajuda e súplica.

Começou como perda, passou a pânico, e hoje arrasta-se pela loucura. Vive como um pensamento constante, uma demanda infindável, um objectivo infinito. Faz-me andar por caminhos fora da rota, procurar rostos onde não existem, supor verdades que não conheço e tenho receio que se me revelem. Eu estou só, mas, acho, que nunca me senti tão sozinho.

No inicio, é fácil pensar que é difícil.
Que melhora com o tempo; que dói menos com a idade. Mas não.
Questões mal ou não respondidas, serão sempre questões. Questões essas, que como anzóis, espetam, e não saem de novo, senão arrastando a carne consigo; como farpas cravadas que se viram do avesso, e atacam por dentro, o que não conseguiram destruir por fora.
É depois que nasce o suplicio, que ganha forma, cor, uma voz e um rosto. E tu, perdido, querendo ou não, vais encontrá-lo sempre que pões um pé na calçada, sempre que entras num autocarro, ou que abres uma caixa de e-mail; vais ver aquilo que queres e que não queres, porque há perguntas, que nunca tiveram resposta.
E tu podes correr, saltitar, palpitar, e protestar; de nada vale.

Andas dormente, tolhido; com os nervos á flor da pele, e com a tensão a explodir-te nos músculos.
Já não choras, porque já choraste o que tinhas a chorar, mas também, já não ris; já perdeste os motivos.
Já não corres, pois já não tens meta nem propósito, mas também já não páras; não há por quem tenhas que esperar. Ficas assim, embalado no vazio.

E queres, e imploras que tudo mude, de uma forma ou outra; que possas ver regressar a tua sorte, ou que encontres outra que te valha. Mas isso não serve, porque naquela que agora chegou, verás sempre a que nunca partiu.

Portanto, e quando assim é, só nos sobra pedir o sossego, e esperar que venha...